Pelo menos 513 pessoas que morreram em decorrência da Covid-19 em Fortaleza não tinham residência firmada na Capital. É o que aponta o Portal da Transparência dos Cartórios, disponibilizado pela Central de Informações do Registro Civil.
O número representa 10% de todos óbitos provocados pela infecção na cidade, a qual registrou, segundo a plataforma, 5.095 casos fatais entre 16 de março e 18 de agosto.
Entre o total de mortos de não residentes em Fortaleza, 511 ocorreram em hospitais, nos leitos de atenção direcionados à doença, e outros dois foram registrados como “em domicílio”. Já com relação à raça, 375 dessas pessoas eram pardas, 111 brancas, 21 pretas e 6 foram inseridas como “raça ignorada”.
De acordo com dados do Registro Civil, os picos de mortes desses pacientes ocorreram entre o início do mês de maio e a metade de junho de 2020. Em pelo menos três datas distintas, 11 pessoas de outros municípios morreram na Capital em decorrência da enfermidade.
Segundo o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, afirmou que, apesar de a cidade de Fortaleza já ter remanejado mais de 600 leitos exclusivos de Covid-19 para outras áreas, ela ainda recebe pacientes de diversas cidades do interior.
“Eles vêm principalmente do Sertão Central, mas hoje menos, por causa do Hospital Regional do Sertão Central (HRSC); e do Litoral Leste”. Conforme o titular, porém, as transferências não se restringem à doença provocada pelo coronavírus, pois “ainda vem muito paciente para Fortaleza para atendimento de câncer, de infarto, grande parte ainda vem para o Hospital de Messejana”, cita Cabeto.
Transferência
Rosimeire dos Santos, 34, viu o pai, João Malaquias, de 83 anos, sair de Itapipoca, do distrito de Tabocal, para buscar o tratamento para a Covid-19. Ainda no fim do ano passado, João já havia começado tratamento de doença cardiovascular, com previsão para fazer um outro tratamento, mais específico, em Fortaleza. Porém, a vinda para a Capital foi por outro motivo.
\”Ele vinha desenvolvendo a doença do coração, tinha falta de ar, sentiu dor muito forte. Adoeceu em uma sexta do mês de junho e veio a óbito no domingo\”, relata a filha com tristeza. De início, ela explica, os familiares foram \”despreocupados em relação ao coronavírus\”, visto que os médicos não chegaram a detectar a doença no primeiro momento.
Saído de uma Unidade de Pronto Atendimento em Itapipoca e transferido em helicóptero, João Malaquias foi internado no Hospital do Coração de Messejana, onde foi alocado em Unidade de Terapia Intensiva rapidamente após a chegada. Ainda assim, o diagnóstico positivo para a infecção pelo SARS-CoV-2 veio somente com a confirmação da morte após uma parada cardíaca.
Movimento
No fim de junho, dr. Cabeto afirmou que o sistema de saúde disposto na Capital recebia entre 5 e 10 pessoas por dia vindas, especialmente, da Região Norte e Região Sul, de municípios como Acaraú, Granja, Camocim e Itarema, com alguns de Santa Quitéria.
Embora as dificuldades sejam ressaltadas neste momento, o movimento de pacientes entre cidades para tratamentos específicos é, na verdade, algo comum pelo Sistema Único de Saúde. A explicação é feita pelo infectologista Luciano Pamplona, ao deixar claro que o caráter universal e a estratégia do SUS preveem atendimentos em diferentes localidades.
\”Ele não limita que as pessoas mudem de um local para outro, por exemplo. Também faz parte a questão de que, para otimizar recursos, tenhamos municípios-polo, que são os que, dentro da região onde se está, possuem uma estrutura maior\”, afirma o especialista.
Pamplona descreve que, dessa forma, esses locais recebem investimentos maiores em relação à rede terciária, com leitos de UTI, e outros municípios podem ter o foco dos recursos na atenção básica e secundária.
\”Sendo Fortaleza um município-polo para a Região Metropolitana e também muitas vezes para outras cidades, esse movimento de pessoas sendo atendidas aqui, saídas de outros locais, e também desses falecimentos de pessoas de outras cidades na Capital, não é algo incomum por conta desse fator\”, comenta.
Casos Ceará
O Ceará registra, até a noite desta terça-feira (18), 199.828 casos confirmados pela Covid-19 e 8.202 óbitos pela enfermidade. Já são 170.767 pessoas recuperadas da doença. Os números são da plataforma IntegraSUS, atualizada pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) às 20h53.
O Estado contabiliza também 89.197 casos em investigação. Já foram notificados 588.685 casos desde o início da pandemia. A quantidade de testes realizados para detectar o novo coronavírus é de 569.680
As cidades com as maiores incidências de casos confirmados da Covid-19 são Acarape (8.982,5), Frecheirinha (7973,3), Groaíras (6.134,8), Chaval (5.953) e Moraújo (5.410,4).