Nos cartórios do Recife, a emissão de certidões de óbito cresceu até quatro vezes, em meio à pandemia do novo coronavírus. De acordo com o Portal da Transparência dos cartórios, houve aumento de 10.500% nos registros de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), saindo de cinco, em 2019, para 525, nos primeiros quatro meses do ano.
Até esta sexta-feira (1º), os cartórios tinham registrado 236 mortes pela covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Essa quantidade é menor do que o número contido no boletim oficial do governo de Pernambuco. Até quinta (30), eram 565 óbitos, de acordo com o estado.
Para os cartórios, no entanto, o número de mortes por Covid-19 pode ser até 322% maior, caso sejam contabilizados os casos considerados, inicialmente, como Srag.
Segundo Francisco Lauria, oficial substituto do cartório do Pina/Boa Viagem, houve menor movimento por causa da pandemia, mas o número de casos de mortes por causas respiratórias aumentou.
“Tivemos uma redução substancial nas mortes por acidente, mortes violentas e tivemos um aumento grande de causas respiratórias. […] Em um só dia, fizemos sete óbitos aqui no cartório. Dois foram de causas naturais e cinco de causas respiratórias”, disse.
Os cartórios orientam que familiares devem fazer pessoalmente o registro do óbito, já que têm todas as informações sobre a pessoa morta. Isso evita erros, segundo os responsáveis pelos registros. Eles informam, no entanto, que, devido à pandemia, quem tem ido aos cartórios são os funcionários das funerárias.
Cuidados
Os responsáveis pelos estabelecimentos dizem que estão cumprindo determinações do governo para evitar as aglomerações e garantir a segurança.
No bairro de Afogados, na Zona Oeste, como em muitos outros, somente a metade das cadeiras fica disponível aos cidadãos, mas pouca gente chega a entrar.
“A gente pede que fiquem aguardando do lado de fora do cartório, usando máscara. Temos álcool em gel. Então, o nosso atendimento está sendo restrito, com pessoas entrando aos poucos. Não podem entrar duas, três pessoas”, afirmou Luiza Alves de Andrade, escrevente autorizada do cartório de Afogados.
Indeterminado
Os cartórios apontam também que cresceu o número de óbitos por causas indeterminadas. Na capital, saltou de um para seis, na comparação entre fevereiro e março deste ano.
Além disso, os registros de morte por insuficiência respiratória aguda grave lideram. Os cartórios copiam a informação dada pelo médico que atestou a morte.
“Ela está na causa principal. No primeiro item, insuficiência respiratória aguda a esclarecer ou causa indeterminada, ou ainda a síndrome da insuficiência respiratória”, afirmou Luiza.
Relatório
Diariamente, os 15 cartórios do Recife passam para a Corregedoria do Tribunal de Justiça (TJPE) um relatório sobre os registros do dia. Às vezes, a informação não vai completa porque, neste momento de pandemia, está autorizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que seja feito sem registro, já que tudo tem que ser às pressas. A informação da morte termina chegando ao cartório bem depois do sepultamento.
Rosena Porto, gestora de cartório do primeiro distrito, no Bairro do Recife, é a responsável pelo relatório diário. Segundo ela, houve um aumento na média diária de óbitos na capital.
Antes da pandemia, nós fazíamos de 45 a 55 registros de óbitos, todos dos cartórios aqui da capital. Depois, essa média subiu de 55 pra 75 e depois foi subindo. Na terça-feira (28), foram 82 óbitos só aqui no Recife”, disse.
Cemitérios
Nos cemitérios do Recife, a situação a quantidade de trabalho também aumentou. Já houve enterros nas unidades de Casa Amarela, Várzea e Santo Amaro, por exemplo.
Entretanto, como há uma obra de ampliação de sepulturas em Santo Amaro, que já estava em andamento antes da pandemia, a prefeitura tem tentado concentrar os enterros no Parque das Flores, na Zona Oeste.
No local, desde a metade de abril, centenas de covas têm sido abertas para receber os corpos das vítimas da Covid-19. São, ao menos, 500 sepulturas abertas por escavadeiras.
No local, há filas de carros de funerárias e os poucos parentes que participam dos enterros ficam embaixo de toldos brancos. Os coveiros contam com a ajuda de presos do sistema penitenciário, que já faziam isso, para fazer o serviço que ninguém gostaria que precisasse ser feito.
De acordo com a prefeitura, o Recife já enterrou, em cemitérios públicos, 99 pessoas, entre 23 de março e 27 de abril. Todas essas pessoas não resistiram à Covid-19. Isso sem contar aquelas que foram enterradas em cemitérios particulares.
Coronavírus em Pernambuco
Na quinta-feira (30), foi registrado o maior número de casos confirmados em um único dia, desde o começo da pandemia, pela Secretaria Estadual de Saúde: 682, o que elevou para 6.876 pacientes com o novo coronavírus no estado. Também foram registradas mais 27 óbitos por Covid-19.