A exemplo de outros estados do País, o Ceará deu inicio ao seu plano de retomada das atividades econômicas, com a primeira fase passando a valer para a Capital a partir de hoje, 8. Enquanto isso, especialistas alertam para o aumento de óbitos domiciliares por doenças respiratórias, que pode sugerir subnotificação de mortes por Covid-19. No Ceará, o dado subiu em 21% neste ano, de acordo com o Portal da Transparência do Registro Civil.
No período entre 15 de março, quando os primeiros casos de Covid-19 foram confirmados no Ceará, e 8 de junho de 2020, o Estado contabilizou 3.041 óbitos domiciliares por doenças respiratórias, como consta no Portal. No mesmo espaço de tempo relativo a 2019, entretanto, o total de óbitos em casa em razão de doenças respiratórias foi de 2.512. A diferença é de 529 mortes.
Segundo a plataforma Integra SUS, atualizada pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) às 10h12min desta segunda-feira, 8, foram registradas 225 mortes domiciliares no Ceará causadas pelo novo coronavírus. O Estado já registra 4.010 mortes por Covid-19, com 54.986 confirmações da doença. O Portal da Transparência do Registro Civil, por sua vez, aponta 310 mortes por Covid-19 em casa no Estado. A ferramenta foi atualizada às 10h10min desta segunda-feira, 8.
Na última semana, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) divulgaram uma nota técnica cobrando qualificação desses dados e citando a sua relevância para os planejamentos de abertura da economia.
O infectologista Rafael Galliez, da UFRJ, menciona que o aumento de óbitos domiciliares foi constatado em outros lugares do País. “Em todas as capitais acometidas pelo Covid-19 notamos esse aumento de óbitos domiciliares. Isso preocupa, porque pode estar mostrando uma subnotificação de óbitos, o que impacta na subnotificação de casos confirmados” alerta.
Na nota técnica, os pesquisadores da universidade alertam para um contexto de “falso normal”, uma estatística aparentemente natural, mas “influenciada por variáveis adicionais e não percebidas que sofrem influência direta do contexto pandêmico pelo qual se está passando”. Eles ainda acrescentam que os óbitos domiciliares podem estar “contribuindo” para a diminuição da ocupação dos leitos.
O POVO procurou a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) para questionar sobre o aumento de óbitos domiciliares no Estado, e aguarda retorno.
Outras capitais
No Rio de Janeiro, o número de pessoas que morreram em casa disparou em comparação com os mesmos meses de 2019, conforme mostra o Portal da Transparência do Registro Civil. A mesma tendência é encontrada em São Paulo, líder em número de casos e mortes no Brasil.
Desde o dia 16 de março, quando se iniciou a quarentena no Rio, até a última quinta-feira, 4, 6.281 pessoas morreram em casa no estado do Rio. Destas, 119 foram diagnosticadas com coronavírus. Excetuando essa porção, são 6.162 óbitos, número 36% maior do que as 4.508 mortes no mesmo período de 2019. Na capital carioca, a porcentagem é praticamente a mesma: foram 2.463 óbitos domiciliares, sendo 67 por Covid-19, contra 1.773 em 2019, segundo o Portal da Transparência do Registro Civil.
De acordo com o Portal da Transparência do Registro Civil, as mortes em casa no estado de São Paulo subiram 13%, passando de 9.578 entre março e junho do ano passado para 10.891 óbitos no mesmo período deste ano. A maioria das certidões chega aos cartórios sem causa específica apontada. Esses óbitos sem registro de causa específica somaram 7.716 casos entre março e junho do ano passado. Agora em 2020, esse número já chega a 9.158, alta de 18%.