Levantamento mostra que, no mês passado, foram registrados 29,5 mil óbitos por insuficiência respiratória e pneumonia, ante 27,5 mil em igual período de 2019, uma alta de 7,6%
A rede de cartórios do Brasil observou um aumento no número de óbitos relacionados a insuficiência respiratória e pneumonia registrados em março. Os números podem apontar subnotificação inicial nas mortes por coronavírus, já que a covid-19 tem um código próprio para indicação no atestado de óbito, mas especialistas são cautelosos ao avaliar a trajetória dos dados. Levantamento da Central de Informações do Registro Civil (CRC) Nacional mostra que, no mês passado, foram registrados 29,5 mil óbitos por insuficiência respiratória e pneumonia, ante 27,5 mil em igual período de 2019, uma alta de 7,6%. Para casos relativos a morte por insuficiência respiratória, os registros em março passaram de cerca de 12 mil para 12,5 mil. Já para pneumonia, o aumento foi de 15,5 mil para 17 mil. No Estado de São Paulo, onde há o maior número de casos e mortes por covid-19 notificados, os registros de março relacionados a insuficiência respiratória e pneumonia somavam 10 mil neste ano, sendo que em 2019 eram 8.732. Como a testagem para covid-19 é considerada insuficiente no Brasil, especialistas ouvidos pelo Valor dizem que óbitos atribuídos a ambas as causas poderiam ser, na verdade, mortes por coronavírus. Por outro lado, Denise Schout, professora do GVsaúde, ligado à Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), afirma que a subnotificação para os casos de coronavírus está mais relacionada aos atrasos nos testes laboratoriais. Desde meados de fevereiro, quando começou a haver maior clareza sobre a doença no país, a orientação é para os médicos registrarem adequadamente o código de covid-19 no atestado de óbito, explica Schout. O primeiro caso do novo coronavírus no Brasil foi confirmado em 26 de fevereiro. O CRC observou 748 registros de óbitos com suspeita ou confirmação da covid-19 realizados entre 19 de março e 7 de abril nos cartórios do Brasil – o pico foi em 3 de abril, com 88 registros. “Não tínhamos tantos óbitos [no início de março], a disseminação de fato começou a crescer mais para o fim de março”, diz Schout. A professora lembra também que questões sazonais podem influenciar o número de ocorrências respiratórias, que atingem sobretudo crianças e idosos. “Em abril e maio, por exemplo, tem muita bronquiolite em criança pequena por causa da variação da temperatura. A umidade também importa, e ela tem estado bem ruim nas últimas três semanas”, afirma. Outra base de dados, o InfoGripe, sistema desenvolvido por Ministério da Saúde (MS), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Fundação Getulio Vargas (FGV) para monitorar casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Brasil, apontou que apenas na semana de 15 a 21 de março, o número de novos internados com sintomas como febre, tosse, dor de garganta e dificuldade respiratória subiu para 2.250. Em anos anteriores, o sistema registrou uma média de 250 casos nos meses de fevereiro e março. Nem todos os casos levantados pelo InfoGripe são de covid-19, já que a SRAG também pode ser causada por diversos outros vírus, como influenza, adenovírus e os quatro coronavírus sazonais que já circulavam anteriormente no país. De todo o modo, os pesquisadores envolvidos no acompanhamento dos dados observam que a mudança brusca sugere que algo diferente aconteceu no período, o que poderia ser justamente o novo coronavírus. No primeiro trimestre, os registros em cartório de óbitos atribuídos a insuficiência respiratório e pneumonia também apresentaram ligeira alta em relação ao ano anterior. Foram registradas, de janeiro a março de 2020, 78,9 mil mortes, ante 77,7 mil em igual período de 2019. Luis Carlos Vendramin Júnior, vice-presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), explica que, de fato, entre o médico entregar a declaração de óbito à família e o registro entrar no cartório pode demorar de um a 15 dias, em casos especiais. |