Levantamento foi feito com base na série histórica dos registros em cartórios, iniciada em 2003; número de casamentos também foi o menor já anotado
Leonardo Sodré
NITERÓI — A pandemia de Covid-19 vem causando um profundo impacto nas estatísticas vitais da população em Niterói. E não é só pela quantidade de mortes, já que a crise sanitária também influenciou diretamente o número de nascimentos. O coronavírus vem alterando a demografia da cidade de uma forma nunca vista desde o início da série histórica dos dados estatísticos dos cartórios de Registro Civil, em 2003: nunca se morreu tanto em um primeiro semestre como este ano, e a quantidade de nascimentos jamais foi tão baixa.
Em números absolutos, os cartórios niteroienses registraram 4.211 óbitos até o final do mês de junho. O número, que já é o maior desde 2003 em um primeiro semestre, é 53,2% mais alto que a média histórica de óbitos no estado, e 19,4% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, em que a pandemia esteve presente durante quatro meses.
Já com relação ao primeiro semestre de 2019, ano anterior à chegada do coronavírus, o aumento no número de mortes foi de 50,6%.
Com relação aos nascimentos, a cidade registrou número próximo — mas ainda assim abaixo — da média de nascidos em um primeiro semestre desde o início da série histórica. Até o final do mês de junho, foram registrados 4.426 nascimentos, 3% a menos que a média na cidade desde 2003, e quantidade 8,3% menor que no primeiro semestre de 2020. Com relação a 2019, ano anterior à chegada da pandemia, o número de nascimentos caiu 20,5% em Niterói.
O levantamento utiliza a base de dados abastecida pelos atos de nascimentos, casamentos e óbitos praticados pelos cartórios de Registro Civil do país, administrada pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), que são cruzados com os dados históricos do estudo Estatísticas do Registro Civil, promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado da equação, de acordo com o professor José Carlos Milléo, do Departamento de Geografia da UFF, é um freio no processo de envelhecimento da população, apesar de os idosos serem o público mais vulnerável ao coronavírus.
— Há uma tendência muito grande de envelhecimento da população que vinha de forma acelerada antes da pandemia. A redução no número de nascimentos já era uma tedência, porque as pessoas estão postergando cada vez mais o momento de ter filhos, muito para priorizarem suas carreiras. Isso tem feito com que as famílias tenham menos filhos, o que contribui para uma tendência de envelhecimento. Houve uma desaceleração desse processo por conta da pandemia, mas é certo que a longo prazo vamos seguir com a tendência de envelhecimento da população — prevê.
Casamentos
Embora não seja a regra, a série histórica do Registro Civil demonstra que o aumento no número de casamentos está diretamente ligado ao aumento da taxa de natalidade em Niterói, o que deve fazer com que os nascimentos ainda demorem um pouco a serem retomados, já que no primeiro semestre de 2021 a cidade registrou o sexto menor número de casamentos desde o início da série histórica.
Apenas 3,3% menor que a média histórica de casamentos no primeiro semestre em Niterói, o número de matrimônios em 2021 mostra considerável recuperação em relação às celebrações do ano passado, fortemente impactadas pela chegada da pandemia, que adiou cerimônias civis em virtude dos protocolos necessários para manter o isolamento social. Até junho, os cartórios celebraram 1.016 casamentos civis, número 34,4% maior que os 756 matrimônios realizados no primeiro semestre do ano passado, mas ainda 14% menor que os 1.182 casamentos celebrados no mesmo período em 2019.
Fonte: O Globo Niterói