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O Globo Online – Uma em cada cinco pessoas mortas no Estado do Rio desde o início da pandemia foi vítima da Covid-19

Coronavírus matou em um ano no Rio mais que a população de 54 cidades do estado

 

RIO — Há 436 dias o Rio recebia a confirmação da primeira vítima da Covid-19 no estado. A notícia era de uma idosa moradora da pequena cidade de Miguel Pereira, mas que trabalhava como doméstica numa casa no Leblon. Desde então, diariamente o número de mortes só cresce no estado, e superou nesta quinta-feira a marca de 50 mil óbitos causados pela doença. São 50.125 vidas interrompidas desde o dia 19 de março de 2020 para um vírus que pouco se conhecia no ano passado, mas para o qual, hoje, já existe vacina. Dados do portal da transparência do Registro Civil apontam que, desde março de 2020, houve mais de 227 mil óbitos no estado — tornando o coronavírus responsável por uma a cada cinco mortes em solo fluminense.

 

Mais de 50 mil mortes no Rio:As cartas de parentes para quem partiu com Covid-19

 

O número de mortes pela Covid-19 também supera as demais causas de óbitos naturais. Segundo dados do Ministério da Saúde de 2019, último ano consolidado, a maior causa de morte no Rio foram as isquêmicas do coração com 13 mil óbitos, quase quatro vezes menos do que o total de vítimas da pandemia.

 

Para se ter uma ideia do efeito devastador da doença, o estado, que há anos luta contra a epidemia da violência, teve no curto período em que a Covid desembarcou quase tantos óbitos do que todas as mortes violentas no estado de maio de 2011 a abril de 2021. Homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e confrontos com a polícia deixaram 50.322 vítimas — segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP) —, o que infelizmente, de acordo com as projeções, deve ser logo superado pelo vírus.

 

A quantidade de mortes da doença no Rio também é um número maior que a população de 54 cidades do estado, que possuem menos de 50 mil habitantes cada uma. Se somadas, as seis cidades fluminenses com menos moradores  possuem juntas menos habitantes que o total de óbitos da Covid-19 no Rio.

 

A especialista em Saúde Pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ligia Bahia cobra testagem em massa da população, avanço da vacinação e um rigor no uso de máscaras de boa qualidade:

 

— Isso aponta uma situação que não é mais uma crise sanitária e sim humanitária. Não conseguimos vislumbrar uma saída se não houver mudança. E as possíveis não foram experimentadas: testagem, uso de máscara, vacinas e lockdown. Certamente, as situações do Rio e do Amazonas precisam ser examinadas com o maior detalhamento.

 

A epidemiologista da UERJ e Abrasco Gulnar Azevedo, concordar que a vacina é a principal saída para o Rio conseguir controlar a doença. Ela analisa que as medidas de restrição nunca foram implementadas de forma efetiva e uniforme em todo o estado, principalmente pela questão social.

 

— Temos a incapacidade de garantir o isolamento e que os números mudem. Sem apoio para os mais desfavorecidos e sem vacinas o suficiente não iremos conseguir ter o controle da doença.

 

Desde a confirmação da primeira morte por Covid-19 no estado, de uma idosa moradora da pequena cidade de Miguel Pereira, mas que trabalhava como doméstica numa casa no Leblon, passaram-se 435 dias — 62 semanas ou um ano, dois meses e nove dias. Em todo esse tempo, a pandemia não se comportou de forma uniforme, e houve piora do quadro nos últimos meses. A marca de 25 mil mortes foi alcançada em 29 de dezembro de 2020, ou seja, com 286 dias. E foi preciso um pouco mais da metade do tempo para dobrar a quantidade de óbitos no estado: 149 dias.

 

Desde março, o Rio tem colecionado novos recordes negativos da doença além de enfrentar a escassez de insumos do “kit intubação”. Nas últimas semanas o Rio conviveu com um patamar de novos casos e mortes jamais visto durante a pandemia. Desde o início de abril até a última segunda-feira foram 54 dias com a média móvel de óbitos acima de 200 diariamente, o que jamais ocorreu.

 

Segundo dados compilados até esta quarta-feira pelo pesquisador Wesley Cota, da Universidade Federal de Viçosa, o Rio é o estado que mais confirmou novas mortes por 100 mil habitantes nas últimas duas semanas. Ao analisar o mesmo indicador, mas com casos de Covid-19, o Rio aparece no outro lado da pirâmide, sendo o sexto com menor índice de novas confirmações de pessoas infectadas nos últimos 14 dias.

 

Rio lidera letalidade no Brasil

 

Desde o início da pandemia, o Rio é o terceiro estado com o menor número de casos confirmados de Covid-19 por 100 mil habitantes, ficando a frente de Pernambuco e Maranhão. A posição, entretanto, não é pela baixa contaminação. Ela reflete o baixo número de pessoas testadas para a doença no estado. Em contrapartida, o estado é a segunda unidade federativa com mais óbitos pelo coronavírus, o que leva o Rio a liderar também o terrível ranking de letalidade pela doença no país com 5,85%, a frente de São Paulo (3,39%) Amazonas (3,37%) e Pernambuco (3,3%).

 

Gestão da pandemia

 

A gestão da pandemia no Rio ficou marcada principalmente pelas polêmicas dos hospitais de campanha, que culminou no impeachment de Wilson Witzel, além de prisões de políticos e empresários. Um estudo indica que a má gestão da rede de saúde faz Rio ter a maior mortalidade por Covid-19 do país.Já em âmbito municipal, uma auditoria encontrou irregularidades do Hospital de Campanha do Riocentro, que teve a maior taxa de mortalidade das unidades provisórias da cidade.

 

Desde o fim de 2020, estado Rio passou por diversas trocas nas gestões da Saúde. Há poucas semanas o médico Alexandre Chieppe, foi escolhido o quinto secretário de Saúde em pouco mais de um ano. Na gestão do ex-governador Wilson Witzel, seus antecessores foram Edmar Santos (de janeiro de 2019 até 17 de maio de 2020), Fernando Ferry (17 de maio a 22 de junho) e Alex da Silva Bousquet (17 de maio a 28 de setembro). Já na gestão de Claudio Castro, já comandou a Saúde do Rio o médico Carlos Alberto Chaves (25 de setembro de 2020 a 4 de maio de 2021).

 

No município, houve mais estabilidade. O epidemiologista da Fiocruz Daniel Soranz assumiu a secretaria municipal de Saúde na capital com a posse de Eduardo Paes, em janeiro deste ano. No governo Marcelo Crivella, foram dois titulares da pasta durante a pandemia: Beatriz Busch e Jorge Darze — que ocupou interinamente o cargo por poucos dias.

 

Na capital, bairros da Zona Oeste lideram as mortes

 

Na cidade do Rio , que chegou a liderar no início do ano o ranking de município com o maior número de mortes por Covid-19 do país,  Campo Grande lidera o número de mortes causadas pelo Coronavírus. Somente na capital já foram 26,185 vítimas confirmadas. Dos 10 bairros que mais confirmaram óbitos pela doença, sete estão na Zona Oeste do Rio.

 

Os bairros com mais mortes por Covid-19

 

Campo Grande – 1.508
Bangu – 978
Copacabana – 863
Tijuca – 834
Realengo – 816

 

Com mais da metade das mortes no estado, a cidade do Rio convive nas últimas semanas com imagens de desrespeito às regras de enfrentamento à pandemia e a pulverização de festas clandestinas. Durante o período mais crítico da crise do coronavírus, O GLOBO divulgou que jovens marcam festas no Rio por grupos de mensagem e debocham da fiscalização que combate à Covid-19.

 

Fonte: O Globo Online